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Rua Frei Caneca, 24, Sitio Histórico, Igarassu - PE. E-mail: academia.letras.igarassu@bol.com.br

Prosa

Igarassu, marco da colonização portuguesa em Pernambuco


O primeiro registro escrito sobre as terras de Igarassu que se conhece até o momento é de 1516, quando o português Cristovão Jacques fundou a primeira feitoria em Pernambuco. A feitoria, é um local onde se armazenava produtos para embarque como o pau-brasil, foi construída às margens do Rio Igarassu. Nessa região habitavam entre outros os índios Tabajaras, dissidentes dos Potiguara. Cristovão Jacques deixou na feitoria um grupo de portugueses, para manterem contatos e aprenderem à língua dos índios. As relações com os índios, favoreceram para que durante três anos Cristovão Jacques enviassem vários navios carregados de madeira retiradas das matas do litoral para a Europa. A feitoria na época era um dos portos mais conhecidos do litoral brasileiro, onde os portugueses mantinham relações com os índios.
            Alguns anos depois que foi instalada a feitoria em Igarassu, O Rei de Portugal D. João III dividiu o território brasileiro em 15 capitanias. A de Pernambuco foi doada a Duarte Coelho, que desembarcou em 09 de março de 1535 no local onde estava a feitoria, para tomar posse de sua capitania, que chamou de Nova Luzitânia. Acompanhava Duarte Coelho sua esposa Dona Brites de Albuquerque, seu cunhado Jerônimo de Albuquerque e ainda um companheiro de viagens para a Índia, o capitão português Afonso Gonçalves. Naquele local Duarte Coelho pretendia instalar uma colônia de agricultores para plantar cana e fundar um engenho de açúcar.    
Os portugueses que inicialmente estabeleceram contatos com os habitantes que aqui encontraram para levar o pau-brasil e outros produtos para a Europa, invadiam e ocupavam as terras indígenas que por meio de guerras procuraram expulsar os portugueses.
O local da feitoria passou a ser chamado Sítio dos Marcos. Foi assim chamado, por existirem dois marcos de pedra. Um foi assentado por Duarte Coelho e o outro por Pero Lopes de Souza ambos tinham por finalidade demarcar os limites das capitanias de Pernambuco e Itamaracá. Esse lugar foi o primeiro núcleo da colonização, melhor dizendo da invasão portuguesa em Pernambuco, e foi inicialmente chamada povoação de Santa Cruz.
O Sítio dos Marcos estava muito próximo da Capitania de Itamaracá, e ainda não era um local muito bom para moradia e defesa dos portugueses que temiam os índios, além de ser um lugar com terrenos muito baixos e difíceis para construção. Por esse e outros motivos, Duarte Coelho seguiu viagem para o Sul em busca de um lugar melhor de instalar uma vila.
Após sua partida Duarte Coelho determinou que o Capitão Afonso Gonçalves comandasse uma expedição a procura de água potável e de um lugar para construção de um engenho de açúcar. O capitão navegou pelo Rio Jussara, como chamavam os índios. Como a expedição começou em 08 de agosto, Dia de São Domingos, o Capitão chamou o Rio de São Domingos. Nessa expedição ocorreram muitas batalhas com os índios que lutavam para expulsar os portugueses invasores.
O nome Igarassu é de origem indígena Tupi e significa “canoa grande”: IGARA=canoa; ASSU=grande. Possivelmente eram as grandes canoas utilizadas pelos índios. Ou seriam os grandes navios portugueses vistos pelos índios?  
Segundo a tradição em 27 de setembro de 1535, Afonso Gonçalves teria vencido uma batalha contra os índios Caeté e em comemoração, construiu uma capela consagrada aos Santos Cosme e Damião. Em torno dessa capela surgiu a povoação com o mesmo nome. Numa carta ao Rei de Portugal D. João III em maio de 1548, Afonso Gonçalves pedia ajuda para manutenção da capela e do povoado dos Santos Cosme e Damião em Igarassu que ele fundara.
Os índios Caeté continuavam as guerras para expulsão dos portugueses invasores de suas terras. Os índios cercaram a povoação de Igarassu por vários meses e o Capitão Afonso Gonçalves foi morto por uma flechada. Em socorro a Igarassu, Duarte Coelho contratou um navio bombardeio sob o comando do alemão Hans Staden. O conflito findou com a derrota dos índios que foram obrigados a fugir.
No ano de 1564 o Rei de Portugal elevou o povoado a categoria de vila, que passou a ser chamada Vila de Santa Cruz ou vila dos Santos Cosme e Damião, quando foram então criados os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A partir daquela data a vila passava a ter autonomia pública, administrativa e econômica.
Em 1594 foi criada a Freguesia dos Santos Cosme e Damião, que passou a ser um município autônomo em 28 de fevereiro de 1893, por meio da Lei Orgânica nº. 52, tendo sido o seu primeiro prefeito eleito o Coronel Luiz Scipião de Albuquerque Maranhão.
Por meio de um Projeto de Lei apresentado pelo deputado Mário Melo aprovado em 26 de setembro de 1935, a cidade de Igarassu passou a ser considerada monumento público estadual.
Para proteger e restaurar o rico acervo existente em Igarassu em 10 de outubro de 1972, o Governo Federal, por meio do IPHAN, tombou o conjunto arquitetônico da nucleação histórica da cidade.


Fernando Melo é Professor de História

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UMA CIDADE PARA OS SENTIDOS
                                                    

Crônica

Igarassu abre-se como uma obra de arte. Na verdade excede a própria idéia do símile. Ela não é uma obra de arte? Sim, arte como trabalho do homem
(construção, artesanato, " fabricação de coisas", lembrando platão ao definir "poesis", só que uma fabricação coletiva aberta, ininterrupta e nunca concluída). Como produto dessa arte do homem-construtor ela também apela à sensibilidade, pede olhares ávidos ( os mesmos com que olhamos para uma pintura, uma gravura, xilogravura, mosaico e vitral), ouvidos atentos ( como nos portamos diante de melodias, harmonias e ritmos), um tato sensível ( como a experimentar texturas, afagar as formas de uma escultura ), paladar de "gourmet" (para degustar completamente seus sabores e não perder nenhum detalhe de sua gastronomia) e um olfato alerta ( aspirando os perfumes e catingas espalhados pelos ventos). Uma cidade aberta e completa para os sentidos.
Igarassu tem em sua humildade de cidade quase interiorana, em seu ar ainda de vila do século XVI e em sua arquitetura modesta, recatada e matuta, uma qualidade que desdenha das idéias de beleza, pureza e perfeição. É uma cidade viva, um organismo que trabalha, que pulsa em seu ritmo pacato. É um produto artístico que não se anula de seu lado feio, malfeito e escuro, mas que também tem suas clarezas e belezas, suas qualidades e defeitos em diálogo constante, cerne da sua vida. Por que não dizer da nossa, também?
O homem pós-moderno em sua corrida desenfreada, em sua impaciência ante aquilo que exige mais lentidão para ser apreendido, captado,sentido, simplesmente perde a grande oportunidade de se conhecer mais, de sentir a vida em sua plenitude. Cidades como Igarassu que nos pedem calma, andamento largo para que possam se revelar, acabam por serem ignoradas naquilo que há de mais exato em sua essência, nas belezas, em detalhe e no todo, acabam no esquecimento, no desprezo, esnobadas. Mesmo assim se mantêm abertas, completas em sua qualidade de cidades que apelam à sensibilidade do corpo e esperam humildes quem lhes dedique olhares e afagos que só elas, como mulheres sem amor, sabem o quanto dói não ter.


Jonatas Onofre é Poeta, Músico e Compositor


Importância e desafios da contação de história no contexto escolar

A história sempre fez parte do homem conceituando sua própria identidade; através delas, contamos e recontamos situações vividas e imaginárias aproximando-nos do real e do irreal.
Inserida na prática escolar a história trará benefícios que estimulará a leitura e a escrita onde o aluno possa se alfabetizar letrando. Conhecedor do mundo que o cerca, o texto passa a ter sentido completo e a escrita um significado concreto e social com finalidades definidas e direcionadas.
Os desafios encontrados na escola  com relação a contação de história são muitos; a escola e diversos educadores fecham as portas para o lúdico, planejando aulas tradicionais e desmotivadas. Não há tempo nem planejamento para a leitura em sala se aula, não se pode perder tempo contando histórias para o aluno, e o que fazer com os conteúdos a serem trabalhados? A falta de sensibilidade também é um fator agravante nesse aspecto, não se pode incentivar a leitura quando não se gosta de ler.
Alguns estudiosos na área afirmam que crianças educadas longe das histórias, da poesia, da boa música, são crianças mais propícias a infelicidade, por isso, esse universo mágico que a literatura infantil oferece que faz uma criança acreditar no nascimento e na morte das fadas, no pó do pirlimpimpim, num reino encantado com todos os personagens mais loucos, divertidos e apaixonantes, é tão necessária a vida infantil que, com certeza o fará um homem muito melhor.
Não se pode ser um homem bom quando não se foi uma boa criança, quando não se viveu os sonhos que só existem num coração infantil, as falas poéticas que nos surpreendem saídas da boca dos pequeninos. Todo leitor assíduo hoje foi de alguma forma induzido por alguém que também acredita na força das histórias, que sabe que através delas nos tele portamos para mundos distantes e encontramos neles o lugar ideal.
As histórias deveriam ser oferecidas nas salas de aula sem o comprometimento de agregar a elas conteúdos programados ou razões alfabetizadoras, se as histórias passam a serem contadas com tais objetivos, com certeza perderá seu significado maior que é o de despertar para o bom, para o grandioso e mágico mundo da literatura.

Xanda Guedes – Professora de Literatura e Contadora de História.

SOCIEDADE DO CONSUMO

Vivemos a sociedade do consumo. As pessoas valem pelo que consomem ou ostentam títulos acadêmicos, carros, roupas, celulares, sapatos, bares, viagens, contas bancárias, bens materiais – e não pelo que elas são: amiga, solidária, companheira, pai, mãe, professor. Ninguém vive sozinho, as pessoas convivem. E a lógica da sociedade do consumo leva as pessoas a olharem somente para seus egos e interesses particulares com falsas promessas de satisfação pessoal, levando-as rumo à marginalização do conviver e da construção de uma sociedade humana e solidária. Ela torna as pessoas dependentes e cativas da mercadoria, das etiquetas, do dinheiro, dos centros de compras. Estimula a ganância e os prazeres imediatistas. Lança falsas necessidades rumo ao bem-estar e à felicidade. Para isso, não mede esforços: destrói o meio ambiente, burla a legislação, explora os segmentos mais pobres, compromete o futuro das crianças e dos jovens. Seu maior motor é a propaganda e o marketing.
A lógica consumista empurra todos para a arena do mercado. Os que detêm o controle dos meios de produção e comercialização de mercadorias detêm também o controle sobre a vida da maioria da população. A própria lógica mercadológica individualizada e privada a esfera pública. Retira a responsabilidade do estado e a coloca nas pessoas, com a falsa idéia de que elas são donas de seus destinos e que têm as mesmas oportunidades. Não considera a estratificação social e que os segmentos populares têm menos oportunidades de consumo e, portanto, excluídos de ascensão socioeconômica, política e cultural.
Desconsidera preconceitos étnico-raciais como se não fizesse diferença ser branco, negro e índio em termos de oportunidades de emprego e liberdade de expressão. Também desconsidera desigualdades entre mulheres e homens, jovens e idosos. Visualiza apenas potencial de consumo entre eles. Pior, congela as desigualdades entre esses segmentos e anula o processo histórico.
Os meios de comunicação assumem a função de mostrar o que devemos consumir continuamente. Para isso, novas necessidades são criadas todos os dias – produtos de estética, eletrodomésticos, vestuário, viagens, aparelhos celulares, bebidas alcoólicas, produtos da indústria fonográfica e cinematográfica, gêneros alimentícios. As pessoas vão às compras, gastam mais do que podem, levam mais tempo do que tem disponível e voltam entediadas, endividadas para ouvirem outra vez que precisam consumir mais e mais.
E essa lógica se combate com mudanças nos padrões dominantes de produção. Mudanças que alterem valores, modos de pensar, sentir e agir em defesa da vida, da integridade ecológica, da justiça social, da democracia, dos direitos humanos, da cultura de paz. Combate-se com formação para a alma, com arte pertencida ao ser. Nesse sentido é papel das instituições formadoras assumirem esse compromisso de combate à sociedade do consumo.
Assim, somos partidários de uma Universidade Pública comprometida com um mundo mais democrático e humano, onde as riquezas(materiais,culturais,espirituais)produzidas sejam distribuídas de forma mais justa e equitativa; que seja construtora de sonhos e esperanças onde seu principal desafio seja alinhar a elevação da qualidade cientifica, tecnológica e artístico-cultural com a promoção da cidadania e da inclusão social, oportunizando pessoas mais felizes e solidárias.

João Morais de Sousa – Professor adjunto da UFRPE